sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Minha mãe III

Ivaldo Gomes


Hoje ela completaria 87 anos.
Dia trinta e um sempre
foi um dia de festa.
Ela arrumava a casa.
Deixava o fogão ligado
o dia inteiro.
Preparava o jantar
do reveion.
E sempre me perguntava:
Quais os planos pro
ano novo?
Sempre desejava sorte.
Dizia que a sorte vinha
sempre acompanhada de
um amigo.
E tudo seria
sempre melhor.
Gostava de ir ver
o movimento na rua.
Curtia os fogos e o
espocar da champagne.
Dizia sempre pra ter
pensamentos positivos.
Acreditava em amuletos.
Dizia que comer romã
atraia sorte.
E eu ficava a ver
o pisca-pisca,
da árvore de natal.
E ela era feliz e sabia.
Como sei hoje.
Parabens mãe,
por mais um aniversário.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Minha mãe II




                               Ivaldo Gomes

Nessa época do ano
Ela arrumava a casa
Pro natal.
Armava a árvore.
Enchia de algodão
Pra dizer que era neve.
Ligava o pisca-pisca.
Colocava caixinhas
Embrulhadas como
Se fosse presentes.
Era tudo de faz-de-conta.
Mas que conta até hoje.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Pesadelo






                   Ivaldo Gomes


Enfim fiquei sem nada.
Perdi o verso, a rima,
O poema.
Agora sou eu e ela,
Sozinhos.
A musa ficou
Desolada.
Na calçada da vida,
Passo o dia a dia
Sem vê-la,
Sem senti-la,
Sem tocá-la.

Fazer o que sem ela?
Sem inspiração?
Sem tesão?
É uma pena pro poema.
Pra poesia e pra
Coitada da musa.
Tudo agora só silêncio.
Só perda e desatino.

Ai de sobressalto,
Eu acordo todo suado.
Era pesadelo.
Ufa!

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Nosso namoro

Ivaldo Gomes


Nosso namoro foi com o iniciar
Dos tempos.
Estávamos juntos naquela
Explosão.

Que se expande até hoje.
Como essa madrugada que
Esvai-se aos raios do sol.

Assim somos nós,
Apaixonados na vida.
Um juntinho do outro
Todos os dias.

Namorando o tempo.
O tempo todo.
Todos os dias.

sábado, 20 de novembro de 2010

Shiva

O Projeto Poema com Manteiga sai agorinha com a dança de Shiva e música indiana. Escute e dance.

Shiva


                     Ivaldo Gomes


Shiva dança,
Na sala da casa.
Na cozinha,
Na vizinha,
Na dela,
Ela dança,
Ele dança.

Shiva encanta,
Desencanta.
Encontra o prazer,
De ser igual ao tempo.
Ela e ele se encantam
Na dança,
Da vida.

Shiva dança.
Ela dança,
Eu danço.
Nós dançamos.
A vida é dança.
Nas andanças
Do universo.

E tudo é verso
E reverso.
Mas sempre o mesmo
Verso e prosa.
Shiva dança,
Eu danço,
Tu danças.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Aprofundando a democracia e a justiça social



                                                                               Ivaldo Gomes


         Passadas as eleições mais desprovidas de conteúdo que já vi na vida, agora vamos ao desenrolar dos governos. Estes apresentados no palco como salvadores da pátria, agora terão que continuar a sua representação contando apenas com a bilheteria do público, os impostos. Claro que alguns milhões não votaram em ninguém. Mas serão - mesmo assim - ‘administrados’ por aqueles em que o TRE certificou como eleito para os cargos eletivos. Realmente o erro das coisas não está apenas nelas próprias, mas no que se faz com elas. Logo não tem nada de errado com a democracia. Mas com o quê se faz em nome dela.
         Também tenho minha lista de prioridades pra cobrar dos eleitos. Mesmo não votando neles. E as farei em forma de defesa e cobrança pública, durante a vigência desses mandatos que se iniciam em janeiro de 2011. Sugiro a nova presidenta – salve a mulher brasileira! – que faça as reformas que o país precisa pra caminhar em segurança, gerando e distribuindo riquezas que esse país possui. Comecemos pela reforma política. Essa a mãe de todas as reformas. Aprofundemos com a reforma tributária e eleja-se a educação como ponto de equilíbrio para dai nascer um Brasil pujante e justo.

         Na reforma política, estabeleça-se o princípio da democracia de quem decide é o povo e quem cumpre são os governos.  O poder emana do povo e deve ser exercido por ele. Portanto, todo poder ao povo. Já temos tecnologia e logística suficientes para colar a opinião pública nas decisões governamentais. É só fazer plebiscitos, votação direta na internet e ir com o tempo fazendo a transição da democracia representativa para a democracia direta. Se elegemos temos o direito de ‘deseleger’ ainda durante o mandato. Todo poder emana do povo e com ele será exercido.

         Aprofundemos a reforma tributária: quem ganha mais paga mais e quem ganha menos paga menos. De verdade. Desoneremos os impostos para quem ganha até três salários mínimos, cobrando alíquotas de 1% sobre produtos e serviços, por exemplo. A partir dai, eleve-se o percentual do imposto até o limite em que a ganância não valha a pena. É extremamente injusto cobrar os mesmos 17% de imposto num pacote de café, para quem ganha um salário mínimo e os mesmos 17% para quem ganha cinquenta salários mínimos. Se quiser fazer justiça, vamos começar a tratar os que podem menos, para que possam mais e quem pode mais, possa menos. Justiça social também é dividir por igual às possibilidades de cada um contribuir no processo. Quem pode menos dá menos. Quem pode mais dá mais. Até que a justiça seja plena.

         Partindo da educação como eixo central de todo o processo de desenvolvimento – em todos os sentidos – cuidemos da saúde e da segurança de todos nós. É essencial priorizá-las no rol das propostas prioritárias. Um programa ousado de geração de obras e empregos será sempre prioridade em qualquer governo que seja digno de assim ser chamado. Não basta chegar ao poder. Temos que democratizá-lo na prática e na retórica. Sem conversa fiada. Ou vamos mesmo mudar as coisas por aqui ou vamos apenas desconversar e achar justificativas para o que não será feito?
  

domingo, 14 de novembro de 2010

De perto



O Projeto Poema com Manteiga, sem camisinha e sem apoio governamental (que legal), nem tão pouco longitudinal sai agora mesmo.




De perto


            
                           Ivaldo Gomes


Eu estava assim,
De bobeira.
Ai achei que tinha
Visto tudo.
Tudinho...
Assim de perto.
Era como se estivesse,
Tão perto.
Que de tão perto,
Ficou assim,
Muito perto,
Mesmo.
Assim de tão
Perto, experto,
Você já percebeu
Que está muito perto,
Mesmo.
Assim tão perto,
Perto demais.
Muito demais,
De perto.

AS COISAS

Presente de domingo...

AS COISAS
 
Jorge Luis Borges
 
 
A bengala, as moedas, o chaveiro,
A dócil fechadura, as tardias
Notas que não lerão os poucos dias
Que me restam, os naipes e o tabuleiro,
Um livro e em suas páginas a ofendida
Violeta, monumento de uma tarde,
De certo inesquecível e já esquecida,
O rubro espelho ocidental em que arde
Uma ilusória aurora. Quantas coisas,
Limas, umbrais, atlas e taças, cravos,
Nos servem como tácitos escravos,
Cegas e estranhamente sigilosas!
Durarão muito além de nosso olvido:
E nunca saberão que havemos ido.

Tradução: Ferreira Gullar

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"Eu aprendi com a primavera a me deixar cortar e voltar sempre inteira".
Cecília Meireles
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Novo sítio http://www.fatima-vieira.com
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segunda-feira, 8 de novembro de 2010

De volta ao batente

Depois de ficar sem tesão de escrever por longos três meses, aviso aos navegantes que voltei pro mar. Com esse meu jeito falador não dá pra ficar calado no meio de uma conjuntura como essa. Só vou escrever aqui. Não quero mais a obrigação de escrever pra outros sites. Se outros sites quiserem publicar o que publico aqui, estão autorizados.

Aqui você vai encontrar informação e conteúdo. Essa é a meta. Coisas minhas e dos meus amigos. Aos inimigos - se tiver - o direito de resposta. 

Livre Pensar implica em assegurar o contraditório. A dúvida será uma eterna dívida. A verdade é só o que nos move. Encontrá-la cabe a cada um de nós. Mas escrever, sobreviver, navegar, é preciso.

Como diz Millôr Fernandes: Livre Pensar é só pensar.

Um abraço,
Ivaldo Gomes

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Livre Pensar sem moderação

Gostaria de conunicar aos possíveis leitores, que esse blog levantou a moderação que foi imposta durante a campanha eleitoral.

Durante o período eleitoral aconteceram fatos que impuseram aos meios de comunicação alternativos, tipo blogs e sites, uma suspensão das postagens de qualquer cidadão nesses endereços. Essa medida - que nada faz avançar a democracia - terminou por censurar muita gente. Mas também livrou os responsáveis por esses blogs e sites de arcar com processos na Justiça Eleitoral.

Mas graças ao calendário dos dias, a eleição passou. Podemos voltar a normalidade das coisas. Mesmo achando que a liberdade de expressão é um direito humano. E logo, tudo que cercei esse direito, é arbitrário.

Mas a gente também sabe que liberdade não é uma coisa que se pede licença. Exercíta-se. Só acreditamos no diálogo. E diálogo, presupõe sinceridade.

Um abraço sincero,
Ivaldo Gomes

domingo, 31 de outubro de 2010

Voto Nulo

O Projeto Poesia com Manteiga sai agorinha com um poema protesto de Lauro Xavier neto.



Voto nulo em protesto às alianças espúrias
Ao não-debate eleitoral
Voto em protesto à farsa eleitoral

Compra de votos em cada esquina
Meninos cheirando cola
E seu Chico continua acreditando na quina

Voto nulo mas não fico em casa
Vou às ruas, minha liberdade
Me dá asas

Luto em cada reduto
Corro em cada morro
Protesto por tudo que detesto

Formação política
Guerrilha cultural
Sem essa distância mística
Sem esse voto de curral

Voto zero zero
Pois não aguento mais
Esse lero lero

Eleição fajuta
Quem não vota
Paga multa

Eleição doméstica
hermética
sem ética
sem poética

Eleição sem prosa, nem rima
E os de baixo continuam
Submissos aos de cima

Eleição será um dia
Em que o povo em maestria
Ensinará às capitanias
Toda força de suas valias

http://lauroxavierneto.blogspot.com/

sábado, 23 de outubro de 2010

Minha mãe I

O Projeto Poema com Manteiga, sem o patrocínio do Banco do Brasil, nem da Petrobras e nem não tão pouco da Caixa Econômica Federal, sai agorinha pra despertar gente grande e miudinha.


Minha mãe I


Ivaldo Gomes


Minha mãe me acordava
bem cedinho.
Dizia pra mim prestar
atenção no passarinho.
Ela repetia:
Escova o dente!
Escova o dente!
E explicava que se
não atendêssemos
o pedido, os dentes
ficavam todos
furadinhos.

Bem-te-vi!
Bem-te-vi!

domingo, 10 de outubro de 2010

Bem-te-vis

O Projeto Poema com Manteiga, sai agorinha em reverência a três Bem-te-vis que cairam do ninho aqui em casa. Do alto da mangueira, ficaram três dias a passear pelo jardim e a ensaiar seus vôos tortos. Mas deu certo. A natureza segue em frente. Eles estão no ar. São e salvos.





Bem-te-vis



Ivaldo Gomes





Quando

Bem te vi,

Assim no jardim.

Pulando de alegria.

Eram três.

Não sabiam ainda voar.

Fazer o quê?

Esperar.

Cuidar.

Ajudar crescer.

Esperar pela sabedoria.

Dos que cuidam sempre.

Pai, mãe, harmonia.

Foi um,

Foi dois,

Ira o terceiro.

Os céus é o limite.

De mim, de ti,

Bem-te-vi.

sábado, 9 de outubro de 2010

Imagine

O Projeto Poema com Manteiga sai agorinha em lembrança dos setenta anos de Jonh Lennon. Se existisse fisicamente até hoje o que faria?




Imagine





Ivaldo Gomes



Imagino Lennon,

Passeando com Yoko,

No parque.



Passos lentos,

Olhares incandescentes.

O amor a vista,

A prazo,

Por todo lado.



Se tivesse vivo,

Talvez estivesse

Hoje em festa,

Com Yoko Ono,

Seu grande amor.



Que saudade!

Imagine.

Da pobreza e do gostar

“Ser pobre é compactuar com a perenização da pobreza”

Marcial Lima

Fonte: http://pedrocabralfilho.blog.uol.com.br/



Wagner Moura foi entrevistado no Roda Viva da TV Cultura. Lúcido, mostrou-se sintonizado com seu tempo. Isento de alumbramentos, fez-se ver consciente, na medida exata, de seu papel de artista, numa sociedade propensa à idolatria. Pés no chão, acautelou-se das propostas vindas de Los Angeles; convicto, não se prendeu à exclusividade com a Rede Globo. Transparente, assumiu seu papel político. Eleitor histórico do PT, disse que votaria em Marina, por não aceitar os tantos senões que contaminaram aquele partido. Assumindo o voto, analisou, sobriamente, o discurso, a prática e a história da candidata. Ao concluir, citou uma frase - atribuída a Brecht - mas que nos parece ser de Toynbee: “O maior castigo para quem não gosta de política é ser governado pelos que gostam”.

O engano é de somenos importância, pois frase creditada a Fernando Pessoa, encontra-se em Camões e, antes, era dito de velhos marinheiros. Observemos, ainda, que uma citação, descontextualizada, pode trair seu sentido original. Fiquemos, então, nos limites do Aurélio. Gostar: apreciar, sentir prazer, dedicar; dar-se bem, acomodar-se ou ser compatível com; aprovar, ter vocação ou jeito. No entanto, o que nos veio à mente diante da citação de Wagner Moura? Lembramo-nos do filósofo Pedro Demo em seu livro “Pobreza Política – a pobreza mais intensa da pobreza brasileira”. Para ele, pobreza não é, apenas, carência material; ser pobre não se limita a não ter, mas ser coibido de ter. Pobreza, em essência, vem a ser repressão, resultado da discriminação sobre o terreno das vantagens e oportunidades sociais.

Pobreza está na acomodação, na omissão, na carência de uma percepção maior, na indisposição para a luta, na limitação dos desejos, na naturalização das incoerências, na transferência de responsabilidades. “A pobreza é exacerbada em sociedades que concentram vantagens e oportunidades”. Não está só na fome: está na humilhação, na subserviência. “Pobre é quem faz a riqueza do outro, sem a ela ter acesso. Pobreza é, sobretudo, injustiça”.

Ousaremos, portanto, a somar com nosso conterrâneo de Passo de Camaragibe, sugerindo que gostar pode enveredar pelo significado de dedicar tempo de reflexão, acompanhar, discernir, questionar, agir contra ou a favor, problematizar. O gostar pode nos levar de encontro aos que confundem projetos de estado, com pura arenga pelo poder. Pode nos contrapor à endogenia de políticos que se limitam ao interesse pessoal ou de grupo. Gostar pode se traduzir em votos e ações do cotidiano que levem ao fechamento de portas aos vivaldinos, aos truculentos, aos arautos da “moralidade”.

domingo, 3 de outubro de 2010

Fricção

Ivaldo Gomes



Sem fricção,
Não há
Penetração.
E sem penetração,
Não há atrito.
E sem atrito,
Não há explosão.
E sem explosão,
Não há fecundação.

As idéias,
Pra nascerem,
Precisam do
Contraditório.

A democracia,
Ainda é o menos
Ruim dos sistemas.

Penetremos então.
Mas com ideais.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Por que se escreve poemas?

Fonte: http://pedrocabralfilho.blog.uol.com.br/

Pedro Cabral



Há versos que parecem espelhos da alma.

Há versos que parecem delírios em queixumes.

Há versos que parecem protestos abafados.

Há versos que parecem declarações de amor.

Há versos que merecem ser esquecidos.

Há versos contidos, há versos exagerados.

Há versos sentidos, há versos compromissados.

Há versos tristonhos. Há versos alegrizados.

Há versos espontâneos. Versos racionalizados.

Versos antigos. E também atemporais.

Versos de poetas quase indizíveis.

Versos de poetas marginalizados.

Versos de poetas bem mascarados.

Versos de poetas carnavalizados.

Há versos até exalando perfumes.

Versos de poetas sem poesia.



E versos que precisam ir para casa.

E com tantos versos remasterizados

O mundo acordou sem mais sentido.

Escrevendo nos ares o mundo diferente

do que existe por aí. Mas mesmo assim,

com todo os seus arremedos,

os versos não matam ninguém.

Não matam ninguém.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

História flutuante

Lúcio Lins


não tenho horizontes
tenho sonhos à vela
e a tempestade da história

não tenho mapas
tenho cartas anônimas
e os gritos de seus náufragos

não tenho mares
tenho a garganta seca
e as palavras navegáveis


_____________________
Continuamos com saudades de Lúcio Lins, poeta paraibano, que têm o mar como centro de inspiração para seus poemas. Como dizia outro poeta chamado Caixa D'água: ele 'abrumou-se' daqui.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Elogio da Dialética

Fonte: http://pedrocabralfilho.blog.uol.com.br/


Bertolt Brecht

A injustiça avança hoje a passo firme
Os tiranos fazem planos para dez mil anos
O poder apregoa: as coisas continuarão a ser como são
Nenhuma voz além da dos que mandam
E em todos os mercados proclama a exploração;
isto é apenas o meu começo

Mas entre os oprimidos muitos há que agora dizem
Aquilo que nós queremos nunca mais o alcançaremos

Quem ainda está vivo não diga: nunca
O que é seguro não é seguro
As coisas não continuarão a ser como são
Depois de falarem os dominantes
Falarão os dominados
Quem pois ousa dizer: nunca
De quem depende que a opressão prossiga? De nós
De quem depende que ela acabe? Também de nós
O que é esmagado que se levante!
O que está perdido, lute!
O que sabe ao que se chegou, que há aí que o retenha
E nunca será: ainda hoje
Porque os vencidos de hoje são os vencedores de amanhã

Enviado pelo Centro de Estudos Políticos Econômicos e Culturais - CEPEC

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Quereres

O Projeto Poema com Manteiga sai agorinha mesmo, com um lindo poema de Regina Quaresma (http://regina-quaresma.blogspot.com/2010/08/quereres-eu-queria-um-pouco-de-anarquia.html?spref=fb).





Quereres

Eu queria
Um pouco de anarquia
Felicidade, folia
Poesia, meio e fim

Eu queria
Escrever tal poema
Que não tivesse soluços
Mas fosse solução

Eu queria
Todo mundo junto
Gente com sangue nas veias
Lúcidos de embriaguez

Eu queria
Festa, festa, música, fogo e dança
Fazer tudo que não presta
Sem saber que cansa

Eu queria
Homens menos sérios;queda de ministérios
Conhecimentos, mistérios
Encher bem todas as panças

Eu queria
Gritar e ser ouvida
Que a vida é muito chata
Mas podia ser diferente

Eu queria
Pedestres e motoristas
Andando na mesma pista
Todos na contramão

Eu queria
Que bruxas e fadas
Fossem muito amadas
Como lhes desse tesão

Eu queria
Um ateu e um anglicano
Um judeu e um cristão
Orando em nome de Alah

Eu queria
Que o mundo fosse in verso
Viver prosas dissonantes
Em poemas desconexos

Eu queria
Todos plexos repletos
Em equilíbrio alucinante
Anunciando começos

Regina Quaresma

sábado, 28 de agosto de 2010

Memória de Maurício Grabois

Por Jorge Amado, escritor

Fonte: http://fmauriciograbois.org.br/beta/institucional.php?id_sessao=20&id_texto=18

Além de companheiros, fomos amigos. Quero dizer com isso, que nosso relacionamento, diário durante algum tempo, não se reduzia aos limites das circunstâncias partidárias

Entre os muitos dirigentes comunistas com quem tratei durante meus anos de Partido, Maurício Grabois foi um dos daqueles a quem me liguei por laços mais profundos do que os da luta política, da militância. Além de companheiros, fomos amigos. Quero dizer com isso, que nosso relacionamento, diário durante algum tempo, não se reduzia aos limites das circunstâncias partidárias, gostávamos de estar juntos, conversar fora das reuniões, falar de temas que não tinham que ver com as tarefas recebidas e cobradas. Maurício era verboso, falava muito – quando o conheci, ainda bem jovem, seu apelido era Vitrola -, mas sabia ouvir, hábito raro em geral e ainda e mais num dirigente.

De Maurício, podia-se divergir sem receio de ofender a disciplina partidária. O culto à personalidade, tão ao gosto da época, ele não o praticava ao menos no que se referia a sua própria figura: membro da Comissão Executiva era, no trato, o igual de qualquer modesto militante. Essa falta de presunção, eis uma das coisas que eu mais presava nele. Outra era a capacidade de duvidar, de querer saber de fato, tirar a limpo, num tempo em que a dúvida não era permitida, era mal-vista, quase sinônimo de falta de firmeza, senão de coisa pior. Talvez por ser judeu, Maurício tinha o gosto da dúvida e acontecia-lhe provocar a discussão, estender-lhe os limites, colher matéria para reflexão. Não sei se era bom teórico ou não, jamais consegui entender, muito menos julgar, tais categorias. O que sei é que em Maurício havia uma certa sensibilidade, um calor humano que o espírito de seita, tão terrivelmente limitador, não conseguia destruir. Fui testemunha, por mais de uma vez, do preço que pagava por não ser estreito.

Fui seu colega de bancada na Constituinte em 1946 e na Câmara Federal, em 1947. A meu ver, Maurício era, de todos nós, o de maior vocação parlamentar, um brilhante deputado. Não da mesma forma que era brilhante Mariguela: diferente, menos zombador, mais malicioso. Recordo ainda hoje um discurso que Maurício pronunciou às vésperas da cassação da bancada comunista, respondendo a Flores da Cunha que nos acusara de traidores da Pátria. Um primor de discurso, de exemplar dignidade.

Trabalhei com ele na ilegalidade — Maurício foi responsável pelos assuntos culturais —, muito discutimos e nos batemos, sobretudo em determinado tempo quando o horizonte ideológico ficara extremamente reduzido. Surpreendi-me mais de uma vez ao saber que Maurício defendera junto a seus pares da Comissão Executiva, ponencias e posições que não correspondiam por inteiro à ortodoxia imperante.

Era alegre, outra qualidade. Não cultivava o ar soturno, a caratonha de tromba, características daqueles idos. Recordo de tê-lo visto triste, acabrunhado, apenas uma vez. Chegava de Moscou onde o relatório de Kruchov ao XX Congresso do PCUS incendiava o mundo. Maurício veio ver-me em minha casa no Rio; estava ferido, eu já disse. Conversamos uma tarde inteira, conversa a “batons rompus”, ao sair ele confirmou: “eu vou em frente, haja o que houver!”

A última vez que o vi, foi em Cuba. Veio comentar comigo uma entrevista que eu dera a um jornal de lá. Depois vieram os anos da ditadura militar, eu soube de Maurício apenas notícias vagas, até que alguém me informou que ele morrera, numa guerrilha, no Araguaia. Eu sempre vira nele mais um intelectual do que um soldado. Mas não admirei que morresse guerrilheiro: escolhera seu caminho e o trilhou até o fim. Haja o que houver, me disse um dia.

Jorge Amado

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

PLEBISCITO SOBRE O LIMITE DE PROPRIEDADE DA TERRA E DO GRITO DOS EXCLUÍDOS

O Plebiscito conta com minha total solidariedade. O plebiscito é a melhor forma de garantir democracia direta. Chega de intermediários. Temos mais é que nos representar diretamente. Representante? Só comercial.
Um abraço,
Ivaldo Gomes



CARTA AO POVO DA PARAÍBA CONVIDANDO TODOS A PARTICIPAREM DO PLEBISCITO SOBRE O LIMITE DE PROPRIEDADE DA TERRA E DO GRITO DOS EXCLUÍDOS, A SE REALIZAREM NO PERÍODO DE 1 A 7 SETEMBRO VINDOOUR0



Cidadãos e Cidadãs da Paraíba,





A CNBB, o CONIC, os Movimentos Sociais, as Pastorais Sociais e tantas outras entidades, movimentos e organizações da sociedade brasileira, num total de 54, estão conclamando todos os Cidadãos e Cidadãs a participarem ativamente do PLEBISCITO POPULAR SOBRE O LIMITE DA PROPRIEDADE DA TERRA, NO BRASIL.



Do dia 1º ao dia 7 de setembro próximo, a sociedade brasileira está sendo convidada a opinar sobre se deseja, ou não, estabelecer um limite no tamanho dos imóveis rurais, como já ocorre, aliás, em muitos países. Grande parte do território brasileiro é historicamente constituída de enormes latifúndios ou de áreas até com milhões de hectares de terra que, em grande parte, ficam cativos nas mãos de um pequeno número de gigantescas empresas ou grandes proprietários que vivem a especular com a terra, deixando-a cativa, nem produzindo nem deixando que outros a cultivem. Ora, todos sabemos que são as pequenas propriedades que garantem o grosso dos alimentos em nossas mesas, além de empregarem mais do que as grandes propriedades, já que o agronegócio só cuida da monocultura de exportação (soja, cana, eucalipto, gado, etc.).


Enquanto isso, há milhões de agricultores sem terra, ou expulsos de suas terras, que são obrigados a sobreviver nos grandes centros urbanos, em péssimas condições de vida, oque agrava ainda mais o inchaço das grandes cidades, acarretando conseqüências de todo tipo.



Por isso, uma grande manifestação dos Cidadãos e Cidadãs sobre essa questão do limite da terra, por meio do PLEBISCITO, seguida de uma coleta de milhões de assinaturas, vai funcionar como uma pressão positiva sobre o Congresso Nacional, de modo a sensibilizar os Deputados e os Senadores a votarem uma Emenda à Constituição que, estabelecendo um limite máximo de propriedade fundiária (o correspondente a 35 módulos fiscais, o qual, dependendo das condições de cada região, pode chegar até a uma área máxima de cerca de 3.500 hectares), permita destinar o excedente de terras à Reforma Agrária.



Portanto, de 1 a 7 de setembro vindouro, também os Cidadãos e as Cidadãs da Paraíba são convidados a darem sua opinião, votando no PLEBISCITO SOBRE O LIMITE DE PROPRIEDADE DA TERRA. Para tanto, vão ser instaladas urnas, das 8 às 17 horas, nos principais pontos de maior afluência de gente, bem como em assentamentos rurais, em universidades, em escolas, em sindicatos, em locais designados pelas Pastorais Sociais e pelos demais órgãos promotores do Plebiscito.



Nesse mesmo período, e mais precisamente (no caso de João Pessoa), no dia 1º de setembro, vai realizar-se, pela 16ª vez, o GRITO DOS EXCLUÍDOS E DAS EXCLUÍDAS, cujo lema este ano é: “Onde estão nossos direitos? Vamos às ruas construir um Projeto Popular”. É nesta oportunidade em que também essas mesmas organizações, entidades, movimentos sociais e pastorais sociais farão um caminhada, a partir das 14 horas do mesmo dia 1º de setembro próximo, partindo da Lagoa, passando pela Integração e em direção à Praça dos Três Poderes, GRITANDO POR JUSTIÇA E CIDADANIA, protestando contra o desrespeito a tantos direitos que lhes são negados: direito à terra, direito à água, direito ao trabalho, direito à energia, direito à habitação, direito à saúde, direito a não serem criminalizados os movimentos sociais, as mulheres, os jovens, os adolescentes, os homossexuais, a pobreza.



O Grito é um momento importante que reúne todas as lutas travadas cotidianamente. Seguimos avançando na construção de mais lutas, da formação política e da organização popular, que se darão durante todo o ano.



Sem nossa efetiva participação, as coisas não mudam. Vamos fazer a nossa parte! Vamos participar do Plebiscito e do Grito!



João Pessoa, 23 de agosto de 2010



Assinam as entidades, organizações, movimentos e pastorais sociais que promovem os dois atos.

Telefone da Assembléia Popular/PB: 3222-5808

E-mail: pbassembleia@yahoo.com.br

AMOR

Rogério Guedes

Forma farmacêutica e apresentação

- Sentimento profundo que não se pode medir em miligramas, posto que transcende a ideia de peso; vem acondicionado em corações com ilimitada capacidade de amar.
Composição
Cada dosagem contém:
- abnegação e prazer.
- Excipiente: o desejo de doar-se por inteiro.
Informações ao paciente
- Mantenha o sentimento ao alcance de todos (à temperatura do corpo), em ambiente de muita luz;
- prazo de validade ilimitado;
- não esconda da pessoa amada as reações de sensibilidade;
- se tiver de alterar a dosagem, faça-o sempre para maior e sem interromper o tratamento;
- AMOR melhora o trânsito de todos os demais sentimentos de nobreza e causa grande leveza na alma;
No caso de ingestão em alta dosagem, não procurar aconselhamento médico.

AMOR É UM SENTIMENTO QUE DEVE SER MANTIDO AO ALCANCE DAS CRIANÇAS, E QUE PODE E DEVE SER TOMADO SEM CONHECIMENTO MÉDICO.

Informações técnicas e modo de usar
AMOR é um sentimento procinético que facilita, coordena e restaura a motilidade propulsora do bem-estar individual e coletivo. O fármaco ativo é o doador. AMOR aumenta a motricidade de todo o organismo e envolve o estímulo na liberação do prazer do sentir-se bem consigo mesmo. Não apresenta propriedades inibidoras de vida.

Propriedades
- Na mulher: desperta a capacidade de ser feliz e procriar.
- No homem: abobalha-o (no bom sentido) diante da possibilidade de sê-lo também, e para tanto contribuir.

Farmacocinética
- Após a administração, AMOR é absorvido rápido e completamente; sua biodisponibilidade absoluta é de 100% (o início da ação é imediato).
- O pico plasmático se prolonga ao longo da vida.
- AMOR é intensamente metabolizado em qualquer idade.

Indicações terapêuticas
AMOR é indicado para:
- solidão involuntária;
- distúrbios provocados pelo esvaziamento de relacionamentos anteriores;
- síndrome do desconforto da falta de utilidade;
- restabelecimento da vontade de viver.

Contra-indicações
- Nenhuma.

Advertências
Liebe, liub, love, amour, amore, amor. Não importa a língua ou a forma; onde quer que se faça uso de seu conteúdo de significado, AMOR é um sentimento só; é o dar-se ao próximo, ao outro, a uma causa, ao objeto da luta de cada um, sem reclamações, diferenças ou indiferenças. Quando inteiro ou pleno, AMOR é a chave que acessa o entendimento e a felicidade – à revelia de quaisquer portas entre ele e a busca de sua realização; ele é a força geradora de vida, cuja beleza transcende a matéria.

Posologia e modo de usar
- Deve ser usado em altas doses, em crianças, adultos e idosos.

Farmacêutico responsável
- Deus.

VENDA SEM PRESCRIÇÃO MÉDICA.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

A LÍNGUA POÉTICA E AFINADA DO ORLANDO TEJO EM DEFESA DA NOSSA LÍNGUA !

Eu Plural: estou escrevendo sobre esse “zé limeira” arretado, porém, graças a Deus, apesar da péssima parceria com um tal de alzheimer, ainda vivo. orlando tejo, com quem, ao lado do amigo - de ambos - livardo alves, tive oportunidade de bater alguns papos, hoje, morando no recife, segundo seu irmão cleidson meira tejo, segundo ele, o orlando, o seu grande mentor, está, infelizmente, se ultimando.
estou, com exceção do seu zé limeira, o poeta do absurdo, lendo as coisas que ele escreveu, focado, principalmente, no seu “as noites do alvorada - via crucis do caboclo misterioso”. embora seja um livro sem a marca da genialidade poética do campinense, recheados de poemas (?) que se perdem pelo engajamento exagerado, tem excelentes momentos do criador dessa bela sacada saída de sua verve repentista.
fui um dos primeiros, ao lado do livrado alves, amigo inseparável, a conhecer as bem-traçadas dessa “brincadeira” que ficou famosa, segundo o próprio, feitas de repente, ou seja, de improviso. fiquem pois, com elas, porque em seguida traçarei um mal-traçado perfil, como mal-traçadas são as linhas deste escriba, sobre o seu velho “noites do alvorada…”

ah, a excelente zélimeirada do tejo foi um desabafo nos tempos em que trabalhava numa agência de publicidade, no recife, sobre o uso exacerbado e feio do estrangeirismo na língua portuguesa e a capacidade dos homens dessa área, publicidade, de complicar as coisas.

putabraço para todos.

1 berto de almeida - Fonte: http://humbertodealmeida.com.br/



NÃO AGUENTO MAIS!


Orlando Tejo


Eu saí da Paraíba,
Minha terra tão brejeira,
Pra fazer publicidade
Na Veneza Brasileira
Onde a comunicação
É toda em língua estrangeira.

É uma ingrizia só
O jeito de se falar,
O que a gente não compreende,
Passa o tempo a perguntar
E assim como é que eu vou
Poder me comunicar?

É bastante abrir-se a boca
O “inglês” fala no centro,
Nessa Torre de Babel
Eu morro e não me concentro…
Até parece que estamos
De Nova Iorque pra dentro!

Lá naquele fim de mundo
Esse negócio tem vez
Porque quem vive por lá
O jeito é falar inglês,
Mas, se estamos no Brasil
O jeito é falar Português!

Por que complicar a guerra
Em vez de se esclarecer?
E se “folder” é um folheto
Por que assim não dizer?…
Pois quem me pedir um “folder”
Eu vou mandar se folder.

Roteiro é “story board”
Nesse vai e vem estrangeiro,
Parece até palavrão
Que se evita o tempo inteiro…
Por que, seus filhos das putas,
A gente não diz roteiro?

Estão todos precisando
Dos cuidados do Pinel
Será feia a nossa língua?
É chato nosso papel?
Por que esse tal de “out door”
Substituir painel?

É desrespeito à memória
De Camões que foi purista
E esse massacre ao vernáculo
Não aguenta o repentista
Pois chamam “lay out-man”
O homem que é desenhista!

Matuto da Paraíba,
Aqui juro que não fico,
Onde até se tem vergonha
De um idioma tão rico…
Por que se chamar de “free-lancer”
Um sujeito que faz bico?

Publicidade de rádio
Apelidaram de “spot”
E tem outras besteiradas
Que não cabem num pacote.
Acho que acabou o tempo
De acabar esse fricote!

Por exemplo: “body type”
“Midia”, “top”, “merchandising”,
“Checking list”, “past up”
(Que se diga de passagem)
“Briffing”, “Top de Marketing”,
Tudo isso é viadagem!

Já é hora de parar
com esse festival grosso
Para que o nosso idioma
Saia do fundo do poço.
Para isso eu faço esse “raff”,
Isto é – perdão ! – esboço!

domingo, 22 de agosto de 2010

A ABLC, o cordel e a cultura popular

Ivaldo Gomes


Fui assistir ontem, dia 21 de agosto, a plenária da Academia Brasileira de Literatura de Cordel – ABLC, que se realizou no Teatro Paulo Pontes aqui em João Pessoa. Pra mim foi um momento importante porque revi o que de melhor existe hoje na Paraíba e no Nordeste em termos de literatura de cordel, repente e poesia popular. Dizer que por diversos momentos fui às lágrimas, com emocionantes improvisos e saudações acadêmicas seria pouco. Confesso que não sou muito fã de academias, mas a ABLC chamou-me a atenção e gostei muito do que vi e vivi ontem à tarde no Espaço Cultural. Quem não pode comparecer aquele ato literário, em um sábado de chuva, perdeu a oportunidade de emocionar-se com o que ali aconteceu.

Essa plenária foi para empossar mais três membros efetivos em seu quadro social. O folclorista, poeta, cordelista João Dantas, o rabequeiro, poeta, cordelista Beto Brito e o poeta, cordelista, pesquisador José Walter Pires. Todos três expoentes em suas áreas de trabalho. Emocionante foi ouvir a saudação de improviso do Rei do Repente Oliveira de Panelas, a saudar o artista popular Beto Brito. Oliveira de Panelas - em seus cinqüenta anos de trabalho ininterrupto - é com certeza o maior repentista vivo desse país. Com todo o respeito e o reconhecimento que tenho por todos os outros. Emocionante todas as saudações. Foi uma tertúlia literária movida a base de muita emoção. A presença de Moraes Moreira, Neumane Pinto, Jessier Quirino, Marco di Aurélio, Glorinha Gadelha, Manoel Monteiro e várias outras personalidades de destaque na plateia, acrescentou ao recinto uma qualidade indiscutível.

Depois de empossados os novos imortais da ABLC, prestou-se uma justa homenagem a outros artistas, poetas, escritores, jornalistas, músicos, que dão relevo e destaque a cultura nordestina e em especial a paraibana. Marco di Aurélio, Moraes Moreira, Neumane Pinto, Jessier Quirino, Oliveira de Panelas, Evandro da Nóbrega, Os Nonatos, Chico César, Vital Farias e Bráulio Tavares, foram agraciados com a medalha comemorativa dos vinte e dois anos de fundação da ABLC. Como você pode ver à tarde ontem foi de festa e que festa. Pois pela primeira vez fui a uma reunião de academia e gostei. Pois o ritual, a formalidade, de tais ocasiões, termina por ser muito maçantes. Coisa pra só acadêmico agüentar. O que não é bem o meu caso.

Mas a reunião comemorativa serviu também para perceber, pelos depoimentos e explanações do que se têm feito na ABLC, que existe um avanço na estratégia de organização da Literatura de Cordel no Brasil. E é graças à tenacidade e perseverança da ABLC, que tendo a frente o presidente Gonçalo, conseguiu de fato e de direito organizar essa área da cultura brasileira. E que, diga-se de passagem, possui uma importância ímpar para a formação literária de todo o nosso povo. Principalmente de nós nordestinos. Literatura de cordel e feira no nordeste brasileiro são símbolos e distinção de nossa cultura. Toda nossa vida teve no advento da feira – o encontro social semanal – o local privilegiado, onde as relações sociais se celebram e se expandem. E na feira, a literatura de cordel, registrou para a posteridade todo um-que-fazer cultural de nosso povo.

Fico feliz quando vejo tanta gente importante da nossa cultura reunida para saudar aqueles que merecem nosso respeito, carinho e admiração. Reconhecimento. Pois é isso que esses grandes mestres da cultura popular precisam da parte da gente. Principalmente dos órgãos culturais oficiais ou não. E aqui meu apelo veemente por uma política publica que confira a cultura popular seu lugar de destaque. Pois a ela é atribuída tudo que foi construído até os nossos dias. É dela a raiz maior e mais significativa de nossa cultura. Para que chegássemos a Rui Barbosa, José de Alencar, Graciliano Ramos, Zé Lins do Rego, Augusto dos Anjos, Gonçalves Dias, Euclides da Cunha, Carlos Drummond de Andrade, Ascenço Ferreira, Raquel de Queiroz, Cecília Meireles, Nélida Piñon, Hilda Hilst, Cora Coralina, só para ficarmos em alguns importantes para nossa formação cultural, tivemos que passar primeiro pelos grandes artistas da cultura popular.

Portanto, é preciso que as Secretarias de Cultura, das várias instâncias governamentais, desenvolvam linhas de pesquisas e de trabalho, na catalogação, no apoio a produção e na sua difusão, sob qualquer meio, dos artistas e das obras de cultura popular por esse país afora. A Paraíba – celeiro de grandes artistas – precisa trabalhar melhor suas obrigações com toda essa área da cultura popular. Não é atoa que o maior de todos os cordelistas - considerado o pai do cordel brasileiro - seja o paraibano de Pombal, Leandro Gomes de Barros. E eu lhes pergunto: Leandro Gomes de Barros está nas salas de aulas da Paraíba? Está e não está. Está pelo esforço de homens como o poeta e cordelista Manoel Monteiro. Mas não está por falta de apoio governamental para tal.

A cultura popular brasileira e especialmente a nordestina, pela sua grande riqueza, precisa cada vez mais de reconhecimento, divulgação e apoio. Precisamos fazer como o Ministério da Cultura vem fazendo, abrindo e reabrindo editais onde a cultura popular é de fato uma prioridade. Mas isso precisa ser extensivo também aos governos estaduais e municipais. Pois esse é um esforço de todos. Pois um povo que não preserva sua cultura, fica sem. E sem sua cultura, principalmente de sua cultura mais legítima - a cultura popular - pode até ser considerado um povo. Mas um povo em franca descaracterização e que poderá no futuro servir apenas como ‘massa de manobra’ para culturas alheias a nossa formação. Cuidar da cultura popular como faz a ABLC e o MINC são garantias de que no futuro existiremos como povo, nação e raça. Com identidade, rumo na vida e na história. Fui muito feliz ontem à tarde. Obrigado a ABLC pelo convite.

sábado, 21 de agosto de 2010

Três poemas de Lúcio Lins

O Projeto Poema com Manteiga de hoje sai em saudade do poeta Lúcio Lins. Ouvindo a música que Chico César fez sobre seu poema Duas Margens (http://www.youtube.com/watch?v=iDs99BBr2ek&feature=related). Três poemas de Lúcio Lins, com esse céu chuvoso, em lágrimas e saudades. Viva Lúcio Lins!



duas margens


quando o tempo
me cobrir os céus
com a anágua suja
da tua espera
e teus lábios
forem duas margens
um
gritando calmaria
outro
clamando tempestade
eu voltarei
de corpo e barco
e por ti
seguirei minha viagem

navegarei
entre teus braços
e segredos
eu
serei teu búzio
tu
serás o meu degredo



degelo


posto que
não haverá
mais porto
quando o sol
beber o suor
do sísifo ofício
de sobre a terra
fazer dias
e envelhecer a história
pelos mares
eu me espalho
(velas
para todos os ventos)

o que ficar de mim
podem velar

é a vaidosa lágrima
se dizendo mar



intervalo das águas


não parto
cedo-me à âncora
feliz do mergulho

meu barco
deu-se aos intervalos
das águas
e hoje
eu nunca mais navegarei

hoje
me dirão nos arrecifes
pelas espumas das perdas
nesse mar louco de pedras

meu barco
deu-se à ferrugem
dos calados
e hoje
eu nunca mais navegarei

não parto
dou-me ao mar


__________________________________________________
Do livro de poemas Perdidos Astrolábios - Lúcio Lins - Edições CCHLA - Editora Universitária - 2002 - 2ª Edição

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Anexo será construído na Estação Ciência

Em outras palavras: continua a ocupação inconsequente da Ponta do Cabo Branco, contribuindo com o processo de degradação já existente. Na realidade João Pessoa tem tantas áreas disponíveis mas a PMJP encasquetou que aquele canto é o canto. Um dia vão reconhecer que aquele espaço está sendo utilizado de forma errada. Mas do que adianta falar isso se lá só se enxerga os interesses de quem quer ficar na história de todo jeito? E o pior, é que esse tipo de atitude parte de quem deveria preservar o espaço mais significativo que a Paraíba possui. Me desculpe a sinceridade, mas a Ponta do Cabo Branco é mais importante e bem maior do que tudo isso que a PMJP quer se colocar como cartão postal. Cuidado, ego exacerbado termina em sanatório.
Um abraço,
Ivaldo Gomes

19 de Agosto de 2010 - Fonte: http://www.pbagora.com.br/conteudo.php?id=20100819144626&cat=cultura&keys=anexo-sera-construido-estacao-ciencia

Anexo será construído na Estação Ciência

A Estação Cabo Branco – Ciência, Cultura e Artes, patrimônio dos paraibanos, vai ganhar um novo espaço arquitetônico multidisciplinar, com a finalidade de atender à crescente diversidade das atividades praticadas no local. A obra já foi licitada e a ordem de serviço assinada pelo prefeito de João Pessoa, Luciano Agra. A Secretaria de Planejamento do Município (Seplan) informou detalhes do projeto desenvolvido pela equipe de arquitetos do órgão. Entre outros, serão incorporados novos auditórios que atenderão a um público de 455 pessoas, sendo dois com 76 lugares, um para 67 e outros dois para 118 lugares.

O novo prédio anexo será composto por três pavimentos, distribuídos em pavilhão para exposições, auditórios, setor administrativo, restaurante, estacionamento, entre outros setores. "Todo o empreendimento segue a proposta de acessibilidade e os padrões internacionais de controle de umidade e climatização. É uma obra que, além de tudo isso, respeita as normas ambientais", frisou Marcelo Cavalcanti, Coordenador da Unidade Executora Municipal (UEM), da Seplan.

Todo o projeto da obra que será realizada pela Prefeitura de João Pessoa (PMJP) foi planejado com base na Lei Ambiental. Em toda a edificação foi prevista a preservação de uma área de vegetação nativa, encontrada na região, objetivando manter intactas as espécies arbóreas.

Nas especificações do projeto, o pavilhão terá um espaço coberto e um pavimento térreo, projetado, prioritariamente, para abrigar exposições técnicas, científicas e culturais, que tenham painéis, esculturas de pequeno e grande porte, equipamentos de diversas tecnologias e áreas da ciência. Este pavilhão de exposições terá uma área de 1.146,10m².

Outra melhoria a ser implantada é o restaurante, já que estudos da administração relevaram que muitas das pessoas que trabalham e frequentam a Estação permanecem no local nos dois horários. Por isso, a necessidade de um restaurante para as refeições desse público, dando mais conforto e comodidade aos usuários. Na área administrativa, o prédio irá disponibilizar salas especificas para esse setor.

Especificações Técnicas – Para abrigar toda essa estrutura, o novo prédio foi dividido em três pavimentos. No piso inferior ficarão os três auditórios, dois conjuntos sanitários, circulação horizontal, pavilhão de exposições com área climatizada e com controle de umidade seguindo os padrões internacionais, sala de dança e música, copa e depósito, além de estacionamento para 392 automóveis.

No térreo, serão mais dois conjuntos sanitários; dois auditórios com capacidade para 118 lugares cada; hall de entrada e galeria para circulação; recepção, depósito e copa; restaurante; cozinha completa e conjunto sanitário independente; setor administrativo; rampas de acesso e circulação horizontal.

O pavimento superior será composto por um terraço; depósito e área técnica. Para ligar os três pavimentos, serão construídas escadas e colocados elevadores. "O restaurante irá funcionar independente das demais áreas. Isso significa dizer que se outros setores estiverem fechados, as pessoas podem usufruir do espaço gastronômico", disse Marcelo Cavalcanti.

Em relação ao conforto térmico e ambiental, as cabeceiras do prédio foram detalhadas para receber tratamento acústico e térmico, de acordo com as atividades desenvolvidas. Já a galeria e a área multidisciplinar, localizadas na área sul, foram projetadas para receber ventilação cruzada.



Redação com Secom-PB