domingo, 31 de outubro de 2010

Voto Nulo

O Projeto Poesia com Manteiga sai agorinha com um poema protesto de Lauro Xavier neto.



Voto nulo em protesto às alianças espúrias
Ao não-debate eleitoral
Voto em protesto à farsa eleitoral

Compra de votos em cada esquina
Meninos cheirando cola
E seu Chico continua acreditando na quina

Voto nulo mas não fico em casa
Vou às ruas, minha liberdade
Me dá asas

Luto em cada reduto
Corro em cada morro
Protesto por tudo que detesto

Formação política
Guerrilha cultural
Sem essa distância mística
Sem esse voto de curral

Voto zero zero
Pois não aguento mais
Esse lero lero

Eleição fajuta
Quem não vota
Paga multa

Eleição doméstica
hermética
sem ética
sem poética

Eleição sem prosa, nem rima
E os de baixo continuam
Submissos aos de cima

Eleição será um dia
Em que o povo em maestria
Ensinará às capitanias
Toda força de suas valias

http://lauroxavierneto.blogspot.com/

sábado, 23 de outubro de 2010

Minha mãe I

O Projeto Poema com Manteiga, sem o patrocínio do Banco do Brasil, nem da Petrobras e nem não tão pouco da Caixa Econômica Federal, sai agorinha pra despertar gente grande e miudinha.


Minha mãe I


Ivaldo Gomes


Minha mãe me acordava
bem cedinho.
Dizia pra mim prestar
atenção no passarinho.
Ela repetia:
Escova o dente!
Escova o dente!
E explicava que se
não atendêssemos
o pedido, os dentes
ficavam todos
furadinhos.

Bem-te-vi!
Bem-te-vi!

domingo, 10 de outubro de 2010

Bem-te-vis

O Projeto Poema com Manteiga, sai agorinha em reverência a três Bem-te-vis que cairam do ninho aqui em casa. Do alto da mangueira, ficaram três dias a passear pelo jardim e a ensaiar seus vôos tortos. Mas deu certo. A natureza segue em frente. Eles estão no ar. São e salvos.





Bem-te-vis



Ivaldo Gomes





Quando

Bem te vi,

Assim no jardim.

Pulando de alegria.

Eram três.

Não sabiam ainda voar.

Fazer o quê?

Esperar.

Cuidar.

Ajudar crescer.

Esperar pela sabedoria.

Dos que cuidam sempre.

Pai, mãe, harmonia.

Foi um,

Foi dois,

Ira o terceiro.

Os céus é o limite.

De mim, de ti,

Bem-te-vi.

sábado, 9 de outubro de 2010

Imagine

O Projeto Poema com Manteiga sai agorinha em lembrança dos setenta anos de Jonh Lennon. Se existisse fisicamente até hoje o que faria?




Imagine





Ivaldo Gomes



Imagino Lennon,

Passeando com Yoko,

No parque.



Passos lentos,

Olhares incandescentes.

O amor a vista,

A prazo,

Por todo lado.



Se tivesse vivo,

Talvez estivesse

Hoje em festa,

Com Yoko Ono,

Seu grande amor.



Que saudade!

Imagine.

Da pobreza e do gostar

“Ser pobre é compactuar com a perenização da pobreza”

Marcial Lima

Fonte: http://pedrocabralfilho.blog.uol.com.br/



Wagner Moura foi entrevistado no Roda Viva da TV Cultura. Lúcido, mostrou-se sintonizado com seu tempo. Isento de alumbramentos, fez-se ver consciente, na medida exata, de seu papel de artista, numa sociedade propensa à idolatria. Pés no chão, acautelou-se das propostas vindas de Los Angeles; convicto, não se prendeu à exclusividade com a Rede Globo. Transparente, assumiu seu papel político. Eleitor histórico do PT, disse que votaria em Marina, por não aceitar os tantos senões que contaminaram aquele partido. Assumindo o voto, analisou, sobriamente, o discurso, a prática e a história da candidata. Ao concluir, citou uma frase - atribuída a Brecht - mas que nos parece ser de Toynbee: “O maior castigo para quem não gosta de política é ser governado pelos que gostam”.

O engano é de somenos importância, pois frase creditada a Fernando Pessoa, encontra-se em Camões e, antes, era dito de velhos marinheiros. Observemos, ainda, que uma citação, descontextualizada, pode trair seu sentido original. Fiquemos, então, nos limites do Aurélio. Gostar: apreciar, sentir prazer, dedicar; dar-se bem, acomodar-se ou ser compatível com; aprovar, ter vocação ou jeito. No entanto, o que nos veio à mente diante da citação de Wagner Moura? Lembramo-nos do filósofo Pedro Demo em seu livro “Pobreza Política – a pobreza mais intensa da pobreza brasileira”. Para ele, pobreza não é, apenas, carência material; ser pobre não se limita a não ter, mas ser coibido de ter. Pobreza, em essência, vem a ser repressão, resultado da discriminação sobre o terreno das vantagens e oportunidades sociais.

Pobreza está na acomodação, na omissão, na carência de uma percepção maior, na indisposição para a luta, na limitação dos desejos, na naturalização das incoerências, na transferência de responsabilidades. “A pobreza é exacerbada em sociedades que concentram vantagens e oportunidades”. Não está só na fome: está na humilhação, na subserviência. “Pobre é quem faz a riqueza do outro, sem a ela ter acesso. Pobreza é, sobretudo, injustiça”.

Ousaremos, portanto, a somar com nosso conterrâneo de Passo de Camaragibe, sugerindo que gostar pode enveredar pelo significado de dedicar tempo de reflexão, acompanhar, discernir, questionar, agir contra ou a favor, problematizar. O gostar pode nos levar de encontro aos que confundem projetos de estado, com pura arenga pelo poder. Pode nos contrapor à endogenia de políticos que se limitam ao interesse pessoal ou de grupo. Gostar pode se traduzir em votos e ações do cotidiano que levem ao fechamento de portas aos vivaldinos, aos truculentos, aos arautos da “moralidade”.

domingo, 3 de outubro de 2010

Fricção

Ivaldo Gomes



Sem fricção,
Não há
Penetração.
E sem penetração,
Não há atrito.
E sem atrito,
Não há explosão.
E sem explosão,
Não há fecundação.

As idéias,
Pra nascerem,
Precisam do
Contraditório.

A democracia,
Ainda é o menos
Ruim dos sistemas.

Penetremos então.
Mas com ideais.