domingo, 27 de fevereiro de 2011

Um contador de histórias

                                                              
                                    Ivaldo Gomes


        Conheci José Bezerra Filho há pouco tempo. Sempre ouvi falar dele como o ‘cara que fez junto com Waldemar Solha o primeiro longa metragem da Paraíba, o filme: O salário da morte’. Que também só vim ver agora em janeiro de 2011. Falar de Zé Bezerra, como é mais conhecido, não é fácil. Justamente por ser ele uma pessoa muito simples, mas por suas múltiplas qualidades, fica difícil defini-lo em poucas palavras. É músico, escritor, poeta, cineasta, ator, diretor, autor teatral, excelente tenor e extremamente boa companhia. É de um humor perspicaz e de generosidade grandiosa.

        Acabo de ler o seu livro: O Decifrador de Sonhos. Onde ele conta em forma de ficção, a vida de sua família, de amigos e vizinhos num Bairro da Torre nas décadas de quarenta a sessenta do século passado. Uma história real, permeada de estórias engraçadas e causos dos mais variados. O que nos chama a atenção nessa leitura é o jeito de contá-la. De logo, percebemos que estamos na presença de um escritor do seu tempo, com uma linguagem própria e muito emotiva.

        Por vários momentos e em várias situações os olhos se enchem de lágrimas ao sabor da forma comovente em que ele descreve tanta injustiça, pobreza e miséria de uma família que espelha bem a realidade de uma Paraíba daquele tempo. Uma pobreza de posses materiais, cercada e embebida por pessoas riquíssimas de sentimento, amizade e solidariedade acima de tudo. Em todos os momentos da sua narrativa, a solidariedade humana é a moeda de troca de seus personagens.

        O Decifrador de Sonhos, título atribuído ao impagável personagem Zé Bode, que se descreve em personagem surreal, onde a ignorância é misturada à esperteza. Uma espécie de João Grilo consagrado na nossa literatura popular por Ariano Suassuna em seu Auto da Compadecida.  Zé Bode, além de decifrador de sonhos para fins de jogo de bicho, faz também o papel do ‘intelectual orgânico’ descrito por Antônio Gramsci. Seu Zé Bode sabe tudo e explica tudo, mesmo sem saber de muita coisa. Um talento enciclopédico forjado nas leituras das estampas que vinham nos sabonetes Eucalol ou dos Almanaques Capivarol de ‘conhecimentos gerais’ tão em moda naquele tempo.

        Mas o que mais me chamou a atenção foi o sentido humano, amoroso, solidário dos personagens. Que mesmo envolto na miséria não se comportaram como miseráveis. E o tempo todo, até por instinto de sobrevivência, dividiam o que não possuíam de material, mas que sobrava em sentimentos nobres de acolhimento e solidariedade. Com certeza estamos de frente de uma obra que merece ser lida por todos e adotada nas melhores salas onde a língua portuguesa é falada, dialogada, ouvida enquanto recurso de comunicação.

        De Zé Bezerra já me considero amigo. De sua literatura considero-me fã. Só espero que você também tenha a sorte de por a mão em alguns de seus escritos. Pois com certeza você vai se deparar com um universo rico de descrições, hilárias estórias e histórias, que ele sabe contar como ninguém. Tai um nome para compor a Academia Paraibana de Letras, hoje infestada de ‘imortais’ sem livros. O Decifrador de Sonhos é com certeza um momento ímpar da literatura paraibana.


O Decifrador de Sonhos – José Bezerra Filho (aracyq@yahoo.com.br) – Editado pela Taba Cultural Editora – Rio de Janeiro – 2009.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Ser feliz


Ivaldo Gomes


Meu navio sai do porto...
E de porto em porto,
Eu vou...
Eu vou e volto,
E volto.
À volta,
Da volta,
Que importa.
A torta,
De morango,
Chocolate,
Tanto faz,
Contumaz,
Capataz da vida.
Invadida,
Infeliz,
Que diz,
Que há esperança.
Que encanta.
De ser feliz.
Ser feliz,
É a meta,
A seta,
Siga em frente,
Feliz,
Feliz,
Feliz.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

PARA MORENOS, MORENAS-CLARAS, CHOCOLATES, CABROCHAS & CRIOULAS!



Se João Balula estivesse vivo corporalmente o que ele teria feito nesses últimos três anos? Pergunta sem resposta. Pois hoje completa três anos que ele se mudou pro andar de cima. João Carvalho da Silva, vulgo João Balula, foi-se daqui mas deixou muitos amigos e admiradores. Eu tive o privilégio de usufruir da sua presença e amizade. Onde ele estiver, aceite a nossa mais irrestrita saudade e admiração. Salve Balula! 

Posto aqui um dos inúmeros textos que ele me enviava para postar no Livre Pensar, com um recado provocativo e debochado: 'meu irmão Ivaldo, divulgue ai pro mundo todo ficar sabendo que a gente tá sabendo de toda essa safadeza por aqui'. Leia o texto abaixo e você vai ter uma pequena idéia de quem era esse Anjo Negro, que esse ano será homenageado numa justa homenagem do Bloco Anjo Azul no Folia de Rua. 
Curta Balula e suas inquietações, provocações. Num texto que o título diz tudo.



PARA MORENOS, MORENAS-CLARAS, CHOCOLATES, CABROCHAS & CRIOULAS! 

Por:
JOÃO BALULA.


Não há lugar para o negro ou pra negra que “não se enxerga”, nesta sociedade!
Não há espaço praqueles(as) que SÃO NEGROS(AS), mas que teimam ( fingem! ) em não se reconhecer(-se) prontamente negros(as) que são!
Não existe oportunidade alguma para quem somente se nega, se menospreza, se diminui, se aniquila e se destesta, naquilo que é – ninguém consegue gostar de quem de si mesmo sente desprezo!
Não restam chances para “morenos”, “jabiticabas”, “macacos”, “tições”, “escurinhas”, “pardos”, “marrom-bombom”, “morenas-claras”, “mulatas”, “tonéis-de-piche”... Também não existem privilégios para negros(as) que se omitem de se afirmar como Indivíduos Negros!...
Ninguém gosta de gente que não gosta de se assumir, naquilo que realmente ( se nota que ) é – todas as Sociedades funcionam mais-ou-menos assim!!!

Nas castas chino-japonesas, por exemplo, há um controle muito rígido daquilo que se é. Exíge-se, dentre questões-do-sangue, que se domine à língua falada no grupo, sua cultura particular e a ritualística filosofal ( religiosidade ) praticada em coletividade, como fatores Inalienáveis de preservação dos esteios-pilares daquele grupo. Dizem – em bocas-miúdas – que os Amarelos ( orientais ) são “umas pestes!”. Mas também concordam que “são muito inteligentes, inventivos e unidos”...

Já nas aldeias indígenas mais centradas, por exemplo, poderemos identificar os mesmos parâmetros de convivência coletiva que se apresentam-nos os Amarelos, como também os Ciganos: devido à compressão de fatores externos, via de regra, esse modo-de-viver se nos parece revestido de uma grande desconfiança para com os visitantes não-Índios e com uma verdadeira fobia em relação às pessoas de pele-branca ( mesmo quando em se tratando de nascidos-criados de relacionamento inter-racial – índios com outros ).

Para a grande maioria dos brancos, mesmo no Brasil, onde se insiste em apregoar o mito ( criado & mantido ) da “democracia racial” ( que sugere e aposta em “todas as raças convivendo sob iguais condições e com os mesmos deveres e direitos” ), os negros simbolizam ( imaginário ) um perigo-constante, como “uma bomba-relógio, alí parada, angustiosamente nos obrigando a contar as horas”... No Brasil a realidade nos adverte a todo instante que “os negros que se mantenham distantes de nós – quietinhos e na sua!”. Conforme até certos livros-escolares “... eles vieram, foram, passaram, trabalharam, sofreram; dançavam, cantavam, jogavam, fugiam, matavam, moiam...” – no todo da literatura escolar, faz-aparecer propósitos de incutir uma “memória-de-passado” aos nossos Estudantes e isto, faz-parecer oficial, aos brancos, que lhes está facultada uma hegemonia e um domínio de suas castas sobre as Etnias Indígena, Negra e Cigana.

Os ciganos, por sua vez, se auto-defendem engendrando códigos-secretos e extremamente punitíveis aos seus páres-infratores para assegurar-se como Povo, nesta sociedade de conflitos raciais surdos ( velados! ) e mudos! Para seus Clãs ( tradicionais em maioria ) um Guappo é um elemento-desagregador, porque, “ao misturar-se com outras raças poderá provocar a destruição do elementar” – o jeito-cigano-de-viver. Já um Mirtho deverá ser castigado com o Degredo sumário, “pelo atrevimento de negar aos seus, à sua gente e à sua cultura/tradição”, exceto no caso de possuir Elemental Preponderante – dádiva dos considerados escolhidos pelas suas Divindades ( razões do Imaterial cigano ).

Pelo que percebemos, toda Comunidade tem suas leis, seu sistema de projeção e proteção do Ato de Vida em coletivo, sua ética e sua estética próprias, aplicadas ao cotidiano-particular de cada grupo social.

Evidentemente que os Negros também detêm um seu Sistema Cultural de labuta no dia a dia...
Mas nós, os negros brasileiros, ainda não conseguimos constituir ou construir uma ética ou uma estética de Povo Negro. Há muitas “aspirações em movimentos”, existem muitos desejos alinhavados, mas ainda escondidos... Até pregamos sobre uma comunidade negra, no entanto, desconhecemos aspectos-principais motivadores de ideais e/ou aglutinadores de adéptos, que nos garanta “povo” – e o Povo Negro – ainda distante – é a nossa doce-falácia e a nossa oressiva des-constatação do óbvio!

Ninguém gosta de gente que passa ( as vezes até ) toda a ( sua ) Vida tentando ser aquilo que realmente não é... Realmente, é duro encarar de-frente a alguém que somente quer SER NADA!

Consideremos, mesmo em tom de brincadeira, a princípio, enchermos às delegacias e tribunais de pequenas causas de queixas ao suposto crime de “racismo-às-avessas” que é tratar Negros e Negras por “coisas” como “morenos(as)”, “crioulas(os)”, “pretos(as)”, “marrons”, “sangue-bom”, “mulatas(os)” e muitos outros Impropérios desta natureza... Obriguemos – judicialmente, até! – a que passem a nos tratar simplesmente por NEGROS(AS) ( já que quando “se afetam”, todos e todas, imediatamente nos reconhecem e nos qualificam pelo que somos – apesar dos lamentáveis adjetivos, tipo: NEGRO-besta, NEGRA-fuleira, NEGRO-safado, NEGRA-vadia, NEGRO-burro, NEGRA-ladra-ladrona... ).
Presumamos ( já que tem o NEGRO-presunçoso! ) que todos & todas já tenham consciência de que somos NEGROS(AS)! Por que não exigirmos a nossa Visibilidade pública? Coisas, como: Respeito, Consideração... Dignidade ? Ter a dignidade restaurada, certamente provoca e promove Auto-Estima... Todos os Povos têm certeza disso!

Sabemos que, no caminho-sem-compostela dos Indivíduos Negros tem ráptos-de-África, separação-de-familiares-tronco, estrupos-de-jovens-crianças-adultos e velhos, mutilhações em praça-pública, assassinatos-deliberados, subjugação-sumária-unilateral, inferiorização-de-consciências, humilhações, humilhações, humilhações... aos milhares de momentos... advindos e introjetados de um processo de escravização que per-durou ( quase ) quatrocentos anos, e de uma abolição que foi inventada “às pressas”, pros brancos “virarem o jogo” contra a gente.
Isto, toda mulher, criança e homem negros sente-na-pele a toda hora que se estar ( acordado/a ) neste imenso país ... Mas, isto e mais outras danaceiras-brancas, não poderá ter peso-de-desculpa para ( essa ) tanta falta de Estima e/ou Auto-Estima que se esvai em lágrimas do rosto-negro da atualidade... Afinal, eu, você, e até o meu gatinho-preto-de-estimação, já sabemos que “esse jeito branco de negro ser” tem essa finalidade: controlar a “liberdade que nos deram”, manter “os negros-salientes sob vigilância e rédeas-curtas”, não nos permitir “arroubos-de-felicidade” alguma – debelar à resistência “dos poucos atrevidos e ousados” e “nivelar o moral” ( cognitivo ) da População para estar sempre-alerta contra nós!

Os “degradantes índices de miséria dos negros”, conforme a espetada-ministerial, servem muito bem para ilustrar trabalhos-escolares, monografias, teses, falas-bonitas em reuniões do movimento-popular, e agora, para “matérias-politicamente-corretas e atualizadas” de meios de comunicação de ( des )massa... Por que também não haver pérolas-ministeriais praquilo de Oxum ( ouro/beleza! ) que existe sendo tocado ou feito pela nossa Imaginação, em Comunidades? Segundo o comercial: “você não acha, que já está na hora de re-ver seus conceitos?”...
É engraçado – mas tá longe de tornar-se uma Graça: a “newacademy” re-edita os seus postulados de desgraça-plena-e-sumária pros negros, e é a gente que tem que endoidar “pra acumular dados em PC’s, cartilhas e laptop’s e ainda tê-los na ponta da língua, pra qualquer discurso, como se isto fosse de ultra-serventia na concecussão de Políticas Públicas, por exemplo.”. Ou mesmo na preservação dos rios, matas, oceanos ou das baleias... É tudo cultura-branca meio ao alcance de negros, índios, ciganos, amarelos e outras cores ( etnias ). E os que cairem-dessa-rede é porque eram “peixes-inteligentes” ( viraram não-estatística ) – escaparam arranhados, da mesmice!!!
Os “Excelentes” adoram nos dar ( sempre! ) mais trabalho – desde há Suméria que é assim...

Por que “os negros não gostam de si”?
Nesta “abstração-nfantil”, de uma estudante pessoense de quarta série, ainda em 2003, numa escola-particular das ditas de classe-média, descobrimos coletivamente que nesse “pensamento-evasivo & efusivo” adormecem e acordam milhões de negros e negras ( 83% ) da população do Brasil ( somando-se “tudo”! ) – que “se orgulha” de estar “o segundo pais mais-negro no mundo” – e onde também temos uma militância etno-racial-negra que expressa em claras-mentes que “há uma imensa dificuldade de manusear o discurso e a prática de conversas, princípios, jeitos, formas, conceitos, filosofias, ciência, arte e religiosidade NEGRAS nas comunidades onde atuamos!”. É verdade: não é fácil ser negro(a), no Brasil. Mas, e daí: nunca foi fácil estar negro(a) em lugar algum do mundo!

Naturalmente que preferiremos os pejorativos: moreno(a), mulata(o), crioulo(a), escurinho(a), bróda, mano(a), bléque, xará, da-cor, meu-rei, sangue-bom, chocolate, acerola e/ou laranjinha... Nosso gosto é mais por “coisas” que não nos coloquem em-pé-de-guerra ( ou mesmo de conflito ) com o status-quó ou com a manutenção ( inalterada ) do racismo à-brasillien. Sem falar que nossa altamente decantada Afrodescendência – tentativa de nos traduzir light – vem tornando-se a mais recente “piada de bacharel”. Explicou-nos um cientista-social, no horário-nobre, que “... negro pesa, fere, arranha na cabeça, incomoda ao gosto-elítico, pseudo-dominante; sugere, tal terminologia, “algo-de-ruím”, até mesmo para as conversas dentre pobres. Então, a intelectualidade gerou “um termo aceitável”, que também não despersonaliza o caráter da questão, tudo se tentando evitar algumas brigas – copiou-se o Afrodescendente!”...
Bravos!!! Fiiiiiiiiiiuuuuuuuuuu!!!!

Já falei por aí que “isto” parece muito mais ‘remédio-pra-sexo’, dos ruins e de laboratório estrangeiro ( droga! ): um caso-crasso de Ingerência à intelectualidade brasileira ( ou uma conveniente Aderência dos intelectuais-tupiniquins ) – quem sabe o que seria o Pior?

Termina por ninguém gostar ( de vera ) da gente, já que inventamos um monte de subterfúgios para neutralizar que nos visibilizem enquanto NEGRO ou NEGRA. Ficamos, certamente, constrangidos(as) quando nos detratam por “morenos(as)” nos lugares públicos ou nas portas de privadas, porém, “a gente ainda não concatenou ( possui ) um discurso ante as teorias da nossa Morenidade”, como fala um intelectual-de-prateleira ( auto-definição ), amigo meu.
Fatalmente, está adiado mais um embate com forças e recursos para modificar a invisibilidade negra  de ( sendo básico ) pelo menos uns setenta e cinco ( 75% ) por cento do nosso povo ( a cada dez negros somente dois vírgula cinco “acham-se” negros ou negras – e mais da metade desse percentual não souberam explicar “porque”. Também com uma ajudazinha da televisão, a Academia anda cerrando-fogo na “re-constituição de uma única raça – a Raça Humana, SE existir raças” ( ela tem dúvidas?! ). Quer dizer, que elas ( as raças! ) “eram perfeitamente aceitáveis na sociedade de 1.100, do século doze cristão”, somente porque “os caras” tinham interesses geocêntricos-políticos-econômicos de ampliar domínios além-mares, confiscar riquezas e patrimônios alheios e/ou transformar em “peças de mercado” Africamos, para aumentar suas fortunas pessoais e/ou coletivas, era isso, então? E que hoje em dia, somente por que “todos nós viramos consumidores-potenciais”, revoguem-se ( danem-se! ) as opiniões em contrário, arraigadas nas cabeças dos Povos, também é isto? Ou será que as Escolas não conseguiram escapar da cooptação, para ensinar ao Povo que ele deverá abrir os olhos e recusar-se a ser massa-de-manobra?
Companheira(o): conclua, seu tempo acabou!!!

Ninguém vai gostar – ou dá-trela! – pra quem se comporta conivente ou se locumpleta cabisbaixo(a) das idéias e dos ideais da morte de si-mesmo. Todo mundo quer, deseja e rala-duro pra Morrer-Feliz: tEr o senso-do-dever-cumprido é o nosso Galardão. Possuir riquezas e acumular patrimônio ostensivo, isto já é outra discussão!

Naturalmente morenos(as), escuros(as), pardos(as), pretinhos(as), crioulos(as), mulatos(as) e mais de cento e quarenta e sete “codinomes de negro/a” ( a disposição no IBGE ) não progredirão em suas expectativas pessoais... girarão mais no drama do “negro-que-se-dá-bem-por-enquanto”... Se colocarão ( inquestionavelmente e institivamente, até! ) contrários às aspirações do conjunto “dos seus” – talvez, nunca se neguem, se encostados à parede, porém, já é franco-fato que renegarão aos outros ( “já feitos Negros/as” ) por infinitas vezes...
Ninguém deverá “se abalar” ( no sentido da nossa Tradição Ancestral Africana ): se todos e todas fóssemos IGUAIS, todo o Universo seria “a maior merda!”... Ademais, a AUTO-NEGAÇÃO ( dizem Abnegação ) também está na Égide do Destino. Já que Ifá anda “meio-gongado” entre nós, as Águas serão obrigadas a continuar rolando... ( a despeito e sobre a sede de São Paulo ou do Sertão da Paraíba ) – e poderá ser que não sobre Pedra sobre pedra!

Não há lugar para o negro ou pra negra que “não se enxerga”, nesta sociedade!
Não há espaço praqueles(as) que SÃO NEGROS(AS), mas que teimam ( fingem! ) em não se reconhecer(-se) prontamente negros(as) que são!
Não existe oportunidade alguma para quem somente se nega, se menospreza, se diminui, se aniquila e se destesta, naquilo que é – ninguém consegue gostar de quem de si mesmo sente desprezo!
Não restam chances para “morenos”, “jabiticabas”, “macacos”, “tições”, “escurinhas”, “pardos”, “marrom-bombom”, “morenas-claras”, “mulatas”, “tonéis-de-piche”... Também não existem privilégios para negros(as) que se omitem de se afirmar como Indivíduos Negros!...
Ninguém gosta de gente que não gosta de se assumir, naquilo que realmente ( se nota que ) é – todas as Sociedades funcionam mais-ou-menos assim!!!

Nosso DNA – de Negro(a) – sabe, percebe e sente: desde os primeiros-homens, quando já se escreveu(-se) – no nosso Sangue – tudo, sobre isto!
Calma: “a Felicidade, haverá de existir ( e resistir ) por sobre toda a Adversidade!”, já nos assegurou um Poeta.

Atoto-oni’orisha.
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JOÃO BALULA -  é homem-negro, militante no Movimento Negro paraibano, desde 1980.



segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Log de Guy Joseph

Acho que nunca disse isso aqui. Mas já disse em outros cantos. Quem fez a log do Livre Pensar foi Guy Joseph.

Eu fazia uma lista chamada Trupizupe. Mas ai achei que esse nome era quase que uma marca de Bráulio Tavares. O nome Trupizupe era pra dá um sentido de irreverência. Mas ai numa convera com Guy Joseph (excelente fotógrafo, publicitário, diretor, criador, inquieto, amigo) disse-me: Livre pensar é só pensar.

Claro, eu já tinho ouvido isso de Millor Fernandes. Ai eu falei pra ele que ele estava intimado a criar uma logomarca para o meu Livre Pensar. E ele disse e isso existe? Claro que existe e passei a editar no mesmo dia uma página que fiquei enviando uns cinco anos seguidos para um mala direta de e-mails de mais de três mil endereços. 

Hoje essa lista é enviada a um Grupo de distribuição (desiminação de informação) chamado Livre Pensar. Não existe mais a página. Existe hoje apenas esse blog. E a logomarca que está ali no canto superior dessa página, ela foi feita pelo excelente designe Guy Joseph. 

E diga-se de pasagem é uma idéia e tanto. Os ipês amarelos do Parque Solon de Lucena em João Pessoa, dentro de uma cabeça que ressoa. Como o pensamento. O Livre Pensar. Uma puta idéia de liberdade.

Ivaldo Gomes

Sobre Guy Joseph: pt-br.facebook.com/people/Guy-Joseph.../100001320378826
 

Para Gonzaguinha

            
             Fonte: http://www.tribunadocariri.com/


          Ivaldo Gomes


         Assim, passeando pela vida me peguei com saudades de Gonzaguinha. Talvez muitos de hoje nem lembre bem dele. Eu acho difícil. Eu sou fã dele e qualquer declaração de fã é sempre suspeita. Mas pego assim ouvindo suas músicas e lembrando os momentos em que as ouvi e seu significado naquela hora. A arte tem dessas coisas. Marca um tempo. Deixam seus signos, suas expressões. São músicas, poemas, peças, danças, filmes, artes plásticas, visuais, manuais, artesanais, tão banais como símbolos e címbalos a representar ato e sonoridade de uma identidade temporal. Gonzaguinha morreu cedo.

         Eu tenho uma questão comigo que diz que a morte deveria se esquecer de algumas pessoas. De propósito. Gonzaguinha é uma delas. É aquele cara que colocou sua emoção, sua sinceridade, seu posicionamento político, ético, com o coração. Disse com sinceridade o que achava. Dai que muitos se chocavam com ele. Era direto como um soco de Mike Tyson. Falava do amor, da saudade, do sonho, da realidade, como ninguém. Era um otimista convicto e com propósitos. Basta ver, ler, ouvir, degustar suas letras e ai você vai perceber a profundidade do seu sentimento.

         Se Gonzaguinha vivo estivesse o que teria feito até hoje? Pergunto isso hoje quando me encho de sua música e saudade. Um companheiro, o moleque, um menino, que fez da vida um hino à liberdade. Em todos os sentidos. Compreendeu como ninguém aquele momento angustiante em que a ditadura militar, esgotada, não tinha nada a oferecer. E o futuro incerto, lá fora, depois da barricada era o único futuro. E ele dizia que a gente deveria ser feliz. A força dos nossos corações iria fazer isso. Porque acreditamos que é possível, de verdade um mundo melhor. Onde as coisas possam acontecer de verdade. De forma justa. Com solidariedade e respeito. Gonzaguinha acreditava também nisso.

         A música, a poesia, a vida, todos nós perdemos muito com a morte prematura de um homem que se colocou no seu tempo e na sua hora a cantar por coisas verdadeiras. Escutar Gonzaguinha além de ser um momento de muita emoção, por sua criticidade, força de suas letras e significado, ele consegue sempre lhe deixar uma mensagem. E ela é sempre positiva, fortalecendo a vontade de ser sempre melhor. Justo. Honesto. Amoroso. Sincero. ‘Não preciso de cem sapatos se só tenho dois pés’. Mas acho que todos devem ter o que for possível e necessário. ‘Pois tudo é possível, mas nem tudo é necessário’. E Gonzaguinha dizia, diz, isso como ninguém. Escuta ele ai e depois tu me fala.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Urge um conselho



     
         Ivaldo Gomes


         Urge a necessidade de se constituir um Conselho Estadual de Comunicação Social. Um Conselho Estadual de Comunicação sob o controle da sociedade civil organizada. Não um Conselho para censurar, cercear, tolher à livre expressão do pensamento e as informações de fatos que são considerados de direito republicano. Que fortaleça e respeite o direito à informação, sem manipulações a cidadania de todos nós. Um Conselho que balize o exercício ético do papel da comunicação social num estado democrático de direito (em todos os meios de comunicação e sistemas). Um Conselho propositivo, que ajude na construção e na sedimentação de uma consciência social responsável e justa.

         A história da imprensa no Brasil é a história da dependência do mando do Estado. Todos os governos teve a imprensa que mereceu. Já não podemos afirmar isso em relação ao povo brasileiro. A imprensa ainda deve um nível de melhor qualidade, de respeito e principalmente de comportamento ético que se possa classificar de irrepreensível. Haja vista que a imprensa, sempre foi confundida com os interesses imediatos de quem governa.  Atrelando sistemas de comunicação particulares, perpassadas por conchavos, em nome de uma tal ‘concessão pública’. Logo propriedade do povo. Mas nunca exercida em seu interesse e nome. Sem muito arrodeio: a imprensa no Brasil ainda precisa dizer a que veio. Pois o que se faz ainda hoje, não resiste à meia hora de análises sérias.

         O Estado no Brasil pode tudo (mas deveria ter limites). E seus representantes, operadores, governos, suas instâncias de autoridade e poder, precisam compreender de uma vez por todas, que tudo evolui inclusive o papel do estado e seus governos. Não dá mais para aceitar calado que o mandante de plantão faça suas listas e determine aos meios de comunicação, de quem pode e quem não pode exercer o direito da crítica. Influindo para que jornalistas sejam demitidos ou fechando empresas de comunicação - via processos judiciais - numa pura intimidação do Estado contra o direito de informar. O grande e legítimo proprietário do poder é o povo. E só a ele é permitido o direito de impor vontades. Aqui o povo deveria mandar e os governos obedecer.

         Um Conselho Estadual de Comunicação Social, com a presença de TODOS os entes sociais representados. Que seja paritário, democrático, onde o objetivo comum seja o bem comum. Sem as manipulações tão corriqueiras em conselhos outros de controle social. Não defendemos esses conselhos falsos, que são montados pra constar: “A lei obriga... eles têm que existir... mas não é para funcionar não’. Não precisamos desse tipo de conselho. Desses já bastam o do SUS, o da Criança e do Adolescente, do Idoso, da Mulher, da Educação, etc. e etc. Urge um choque de seriedade nas coisas. Menos hipocrisia e mais ação. Coladas nas necessidades da população. Não estamos mais no tempo do império, onde reizinhos e principezinhos eram adorados por força da força e da escolha ‘divina’.
 
         Urge mudanças 

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Amigos sumindo assim

      Ivaldo Gomes


        Fazia a barba pela manhã e pensava quantos anos já tinha vivido. Lembrei-me dos amigos que já se foram e que nem deu tempo de dar-lhes adeus. Quando sabemos eles morreram. É como se fosse um pedaço da gente que vai fazer falta daqui pra frente. De olho na navalha e nas lembranças. Um a um foi passando na memória, como se fosse um filme. Eu consigo ver cada um. Nitidamente. É como se eles estivessem ainda presentes.

        Marcus Aranha com seus artigos de domingo. Luís Augusto Crispim em suas caminhadas sentimentais. Altimar Pimentel com suas histórias e danças, João Balula e seu jeito de ser carnavalesco. Livardo Alves e o Bloco da Cueca. Ednaldo do Egito e seu teatro marítimo. Pedro Santos e o coral cinematográfico. Mário Assad e sua cosmologia genial. Silvio Allen e a história mais que bem contada.

        Quando os amigos morrem, morremos um pouco junto. Pois ele leva nossa saudade, nossa amizade e nossa alegria de tê-lo como amigo. É um silêncio que não passa. Que não volta e que não nos devolve esses entes queridos. Vivemos das lembranças, das miragens de suas presenças em pensamentos e fatos vividos ainda quando estava por aqui. Essa certeza de que não vamos mais vê-los, é desconcertante. Suportamos por força das circunstâncias.

        Será que vou vê-los um dia? Será que vou conversar com eles novamente? Será que vou ter mesmo que viver apenas com a lembrança das cosias que vivenciamos juntos? Será... Será... Tudo no futuro e eu vivendo do passado. É incrível como não consigo colocá-los no passado. Agora mesmo eles vivem aqui, um a um, na lembrança que não se esvai. Acho que eles todos continuam vivos. Pelo menos agora enquanto faço a barba. São como pelos. Sempre estão de volta.