segunda-feira, 25 de abril de 2011

Par lamento brasileiro



                                                 Ivaldo Gomes


            Já vamos para o final do primeiro semestre e nada da Reforma Política andar. A Tributária nem se fala. Até agora só propostas de continuidade do mesmo que já é ruim. Com um parlamento assim, continuamos a descer a ladeira que nos distância cada vez mais do verdadeiro espírito democrático. O parlamento brasileiro ainda continua sendo um balcão de negócios, onde a mercadoria negociada não pertence aos vendedores. O parlamentar precisa aprender que na atual conjuntura ele tem sido apenas um ‘atravessador’ do povo. Já que ele não assume ser representante da vontade do povo. Pois ser representante da sua vontade - em nome do povo - é muito diferente disso que está ai. Então o pejorativo ‘atravessador’ cabe bem na carapuça deles.  Claro que toda regra tem exceção. Inclusive a regra que diz que mesmo sendo honesto ‘precisa parecer honesto’. E os honestos – poucos - no meio de tantos desonestos, até por respeito à matemática, são minoria.

            O parlamento no Brasil, além de ser lamentável, é muito, muito caro. É, com todas as letras, o parlamento mais caro do mundo. Mas no Brasil é sempre assim. Aqui ou somos oito ou oitenta. Pobreza, miséria, violência, corrupção, tem que ser muita. Pouca é besteira. Mas os títulos de grandeza falam por si só. Por outro lado temos esse país continental que conseguiu sobreviver há mais de quinhentos anos de espoliação. Primeiro dos colonizadores. Depois, dos exploradores dos colonizadores. Mas tarde, dos filhos dos colonizadores agora brasileiros. Mistureba de índios, negros e europeus. E por ai segue a salada de culturas servida em taças de cristal para os ricos, em copos de vidro pros seus ajudantes e em copo de plástico pra população em geral. Essa como sempre paga toda a conta, passa, lava e borda sem reclamar.

            Todo mundo tira gracinhas com os portugueses. Mas lá vereador, por exemplo, não ganha nenhum dinheiro pelo cargo. Lá é só encargo. Trabalham durante o dia e se reúnem a noite por dever de cidadania. O exercício da representação parlamentar é um trabalho a mais. Eles têm que continuar a tocar suas vidas e ganhar seu sustento. No Brasil vocês sabem como é que é: 15º salário, salário palitot, salário amante, salário cativante, salário ‘esbanjante’, salário decorrente da miserabilidade de todos. Uma corte onde seus pares são mais príncipes que representantes populares. Pagamos gasolina, diárias, ajuda de custo, assessores, material de limpeza, água, luz, carro com motorista, telefones de todas as operadoras, passagens aéreas, férias, plano de saúde, dentário, funerário e pensão pra viúva, tia, prima, sobrinha e empregos, muitos empregos em todo canto. Ou seja, eles têm tudo que a população não tem.

            E o resultado desse investimento popular? Meu Deus! Não tem passado de denominação de ruas, votos de aplauso em reconhecimento de seu fulano, outorga do título de cidadão a seu sicrano, medalha de latão pintada de ouro a seu beltrano. Projetos que ligam nada a canto nenhum. Sessões e mais sessões para discutir o óbvio ululante, mas que não consegue chegar a alhures por providência nenhuma. Requer tapar um buraco ali, faz uma vênia acolá. Um à parte, uma parte, parte e reparte e nada sobra para o povo que paga, paga, paga, sempre mais e nada vê de concreto em melhoria de sua vida. Com todo esse esforço concentrado, o parlamento no Brasil vai terminar mostrando toda a sua inutilidade. Vai terminar por não se justificar. O que é péssimo pra democracia. Não ajuda em nada. Nadinha.

            Os atuais governos têm que forçar a Reforma Política que vá ao encontro dos anseios do povo. Com questões que destaco a seguir: pela implantação do voto facultativo (ele é um direito, não é um dever); por um sistema de controle de desempenho parlamentar pela população; por eleições em condições igualitárias para os candidatos; partidos prestando contas ao TCU/TCE; representantes distritais na proporção de um representante para cada milhão de habitantes; analfabeto não vota até se alfabetizar; pagamento ao representante parlamentar apenas das despesas parlamentares sem salário fixo; e a implantação do voto virtual para consultas diretas a população maior de 18 anos. Caso as reformas política e tributária (na base do ‘quem ganha mais paga mais e quem ganha menos paga menos’) não saiam de acordo com os interesses da maioria da população, logo, logo, vamos ter que administrar conflitos que podem tornar-se incontroláveis. E ai, vamos esperar os conflitos ou vamos nos anteceder a eles? Cadê a Reforma Política e a Reforma Tributária? Sai quando mesmo? O tempo ruge.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Diga o que quiser, mas diga.