quarta-feira, 18 de julho de 2012

Elpídio Navarro 1937 - 2012



     

                                                                                                                                                                          Ivaldo Gomes



     Elpídio Navarro era/é daqueles homens que fica difícil de se estabelecer uma classificação. Tipo essas de diretor, teatrólogo, encenador, cenógrafo, iluminador, escritor, professor decano, ator, defensor intransigente da liberdade, cidadão coerente, trabalhador solidário, um clássico senhor que a todos tinha atenção e respeito. O material de que esses seres são feitos, anda cada dia mais escasso por aqui. Então nem não adianta classificar Elpídio Navarro. Ele além de tudo já descrito acima - por ter sido com essência e alma - ele ultimamente tinha incursionado na internet. E tinha e espero que continue, um blog que eu gosto de chamar de Revista Cultural El Theatro. 

     Um dia eu tava em casa e toca o telefone. Era Elpídio. De bate pronto começou: 'Ivaldo, gostaria que você escrevesse alguns artigos pra um site que eu criei e já tem fulano, sicrano e beltrano que estão escrevendo e gostaria que você pudesse ajudar com alguma coisa, quando você puder. O dinheiro é nenhum, mas se você não quiser escrever fique a vontade. Eu vou entender'. De pronto aceitei. Pois sempre prestei atenção em Élpidio mas nunca tinha conseguido me aproximar dele. Hoje eu percebo que meu azar foi grande em relação a Elpídio Navarro. É que só cheguei em João Pessoa em 1976. Até 1976 ele já tinha feito um mundo de coisas e eu perdi de ver tudinho.

     Convivi com ele de forma esporádica em alguns encontros e discussões públicas. Mas sempre observava o jeito dele falar. Sempre ouvi muitos elogios a pessoa dele. Todo mundo o elogiava do ponto de vista da contribuição cultural dele. Lembro de uma vez que estávamos nos jardins da Academia Paraibana de Letras, no velório de nosso amigo comum, Altimar Pimentel (que Deus o tenha em bom lugar) e ele dizia pra mim e Fernando Teixeira: 'qualquer dia desses é a gente. Isso tudo é uma merda'. E Fernando sem perder a deixa disse: ''merda' pra ele também'. Rimos da tirada espontânea de Teixeira e ficamos ali a lamentar a ida tão cedo de Altimar. Mas parece que a vida segue mesmo a gente achando que não. A gente vive aqui como se não fosse morrer.

     De Elpídio físico só resta agora suas ações, seu exemplo e seus escritos. E acho que deviam reunir tudo e deixar repousando na eternidade da internet. Acho que ele ficará feliz por isso. Só assim nunca morrerá de verdade. Pois só se morre de verdade quando se é esquecido. E fica difícil esquecer pessoas como Elpídio Navarro. Quem conviveu com ele, quem viveu com ele, sabe do pouco que eu vi e convivi. Eu sei que meus dez anos foram um nada na companhia dessa figura humana extraordinária. Um homem que dedicou sua vida aos outros. Sempre preocupado em como homens/mulheres poderiam ser melhores e o que ele poderia fazer para ajudar nisso. Um comunista convicto da solidariedade humana. Um entusiasta do teatro paraibano.

     Ficamos mais pobres com sua ausência. A Paraíba perdeu um paraibano de grandeza. Espero que saiba honrar sua memória. Merece todo nosso respeito e consideração.

2 comentários:

  1. Às vezes, quando as luzes do palco se apagam e cai a cortina, nem sempre significa o fim. Enquanto o público se afasta com seu burburinho habitual, o pensamento, muitas vezes, volta a percorrer o tema e a fazer uma análise sobre o assunto. O tema continua vivo. Assim vai ser com Elpídio. O apagar das luzes e o Pano que cai do palco da sua vida, jamais, irá apagar a sua história. Conheci Elpídio quando ainda éramos estudantes. Um pouco mais à frente, ainda estudantes, nos reencontramos na Rádio Tabajara. Depois, a vida nos desencontrou, novamente. Certo dia, recebi uma email dele perguntando se não gostaria de escrever para o Eltheatro. Primeiro fiquei feliz pelo reencontro. Em segundo lugar, disse que seria bom nos mantermos em comunicação, também através do seu jornal semanal. Assim, como aconteceu com você, ele teve a gentileza de acolher meus escritos e editá-los. Algum tempo depois, como era do seu jeito, ele resolveu criar uma secção só para mim que ele próprio denominou de “Caçuá do Wilmar” onde havia de tudo um pouco. Apenas me comunicou.
    Semana passada, passei toda acamado com dengue hemorrágica e, só hoje, deparei-me com a notícia do falecimento desse amigo de longas datas. Outro dia, fui visitá-lo em sua casa, em Praia Formosa. Tivemos um bom papo e ele me presenteou com seu livro “O Velório” e disse: “Leve logo este que ainda tenho alguns exemplares aqui e vou me livrando deles devagar, desse jeito, presenteando aos amigos.” e fez um sorriso. Uma pena não ter podido ir ao seu velório para uma despedida formal. A Paraíba perde o Mestre do Teatro. A Paraíba perde meu amigo Elpídio.

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  2. Wilmar, vamos ter que nos acostumar com essa novidade triste. Mas a segue o poema, o texto, o ato. Elpídio agora faz parte de um teatro bem mais abrangente. Só tenho a agradecer ao destino ter me dado a oportunidade de conviver com ele. Vamos em frente.

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