terça-feira, 7 de junho de 2011

A filosofia do bode na sala



 
                                          

                                           Ivaldo Gomes


         Nada que não possa ficar pior. Essa é na prática a essência da filosofia do bode na sala. Seus pressupostos teóricos apontam para uma razão simples: o impressionismo. Ele procura disseminar naqueles com quem ela entra em contato, a certeza de que vivia melhor do que achava que vivia. É uma espécie de simancol psicológico, dado a frio e sem generosidade nenhuma. É uma filosofia toda embasada em experimentos concretos e indiscutíveis em resultados. Se não vejamos.

         O líder dessa filosofia, importunado que foi em seu dia de descanso, por um desafortunado morador que resolveu lhe procurar para se queixar do dia a dia da sua vida. Começou reclamando que o filho não gostava de estudar, que a filha só queria agora saber de namorar, que a esposa só vivia a lhe pedir pra comprar isso e aquilo e que seu chefe nunca lhe compreendia, apesar de ser um funcionário dedicado. Debulhou um rosário de queixas e infelicidades.

         O grande líder ouviu tudo em silencia – como um grande líder – e disse pra ele que tinha uma determinação a ser cumprida pelo queixante. Que fosse agora mesmo ao chiqueiro dos bodes e pegasse o pai de chiqueiro (o maior bode de todos) e levasse pra sua casa e o amarrasse na sala de visitas e o deixasse por lá por sete dias e só após retornasse para que ele tivesse tempo de pensar no que fazer. E claro, como líder, não poderia ser contrariado. Assim foi feito.

         Claro, o reclamante da vida levou o pai de chiqueiro pra casa e contou tudo pra mulher dele. Ela ficou uma fera com a decisão. Mas o líder era o líder. Não precisa nem dizer que a casa ficou um pandemônio. Um pai de chiqueiro amarrado na sala com aquele cheiro de bodum incensando tudo tirou a família de vez do sério. Todo mundo reclamava, culpavam-se uns aos outros, todos tinham culpa e ninguém tinha razão. A semana passou sob o caos total dentro de casa. Ninguém nem se cumprimentava mais.

         Ele voltou com o bode para a segunda visita ao líder. O líder perguntou como ia à vida e ele numa frase só respondeu: um inferno! Minha vida está muito pior agora, depois que esse bode invadiu minha sala. O líder ouviu calado todas as reclamações, como um líder. Mandou que ele devolve-se o bode ao chiqueiro e voltasse pra casa o mais rápido possível e tocasse a sua vida em frente. E só voltasse daqui a sete dias.

         Passados os sete dias, ele chegou todo feliz na casa do líder, foi entrando e dizendo logo que agora estava tudo bem. O filho voltou a estudar, a filha só namorava nos finais de semana e estava até ajudando a mãe em casa. A mulher suspendeu os pedidos e estava até mais atenciosa. E ele claro, estava até gostando mais do chefe. Claro, ele é que tinha ficado mais compreensivo. Mais colaboracionista e tudo estava melhor depois que aquele bode fedorento saiu do meio da sala de visita deles.

         O líder olhou pra ele como líder e disse: agora vá pra casa e continue a tocar a vida. Pois eu vou ter que me ausentar pra prestar assessoria a um governo estadual no nordeste. Vou pra lá pra ensinar aos novos dirigentes a minha ‘filosofia do bode na sala’. Nada que não possa ficar pior com ela. E ai está ai o resultado. Pra quem quiser conferir. Mas fique tranquilo, assim que o bode for retirado das nossas salas tudo vai ficar melhor. Acredite e confie. Essa é a nova velha novidade.


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