domingo, 25 de julho de 2010

A morte da crítica?

Ivaldo Gomes


Tem um pensamento que gosto muito e que usei por alguns meses no rodapé de uma página ‘on line’ que editava chamada Livre Pensar que dizia o seguinte: “Sem liberdade de criticar, não existe elogio sincero”. Beaumarchais (1). Pois bem, esse libertário dramaturgo francês nascido no século XVIII, defendia a crítica sincera como uma forma de fazer avançar o pensamento humano. Entendia ele que se não temos o direito de criticar de forma sincera, de nada vale os elogios feitos. Hoje em dia continua muito atual sua preocupação. Pois alguns defensores dos atuais dirigentes da política na Paraíba ficam abespinhados com as críticas que fazemos aos seus chefes de plantão.

Eu até entendo (não aceito) que eles façam a defesa do chefe, mas deviam, até por uma questão de decência, de honestidade mesmo, informar aos seus possíveis leitores, que eles recebem do erário público para fazer esse tipo de defesa. Até porque com o rabo preso no cargo de confiança não poderia ser diferente. Continuo me esforçando para ficar justamente do outro lado desse balcão de negócios em que se transformou a administração pública na Paraíba. Faço questão de não ser da ‘confiança’ desses senhores e senhoras, que confunde o público com o privado, apesar de todo esse discurso de impessoalidade hoje tão em voga. Esse discurso não sobrevive a uma simples olhadela nos nomes e na forma de como esses cargos de ‘confiança’ foram escolhidos.

A falta crônica da crítica nas coisas da cidade de João Pessoa e do nosso Estado da Paraíba está virando uma epidemia que a todos acomete. Alguns, por questões que só suas consciências conseguem explicar, só sabem fazer o elogio insincero ou optam por eleger apenas um lado da moeda de troca para desancar com suas críticas. E o pior é que o ‘esquema’ que ele apóia (protege) sofre das mesmas mazelas, mas eles só conseguem ver o mesmo lado do cordão encarnado ou azul que assumiram defender.
Essa relação de dependência financeira com os elogiados é o que se tem mais visto por aqui. A contratação de ‘assessores’ com o dinheiro público - não para fazer o público entender o quê de fato se passa na real administração - mas para dourar a ‘pírula’ e deixar o chefe bem na foto. Essa falta de criticidade tem levado alguns as raias da inconseqüência quando os mesmos ficam cegos em não ver os prejuízos causados a olhos vistos por seus chefetes de ocasião, mesmo que com isso até o seu meio ambiente fique atingido. Digo isso me referindo a muitos que lidam com a imprensa na Paraíba, que moram na praia do Cabo Branco e não conseguem nem balbuciar uma palavra e nem tão pouco vê o estado de abandono que aquele recanto aprazível da nossa cidade se encontra.

A falta de uma crítica sincera tem levado ao engodo, a enganação, a propaganda enganosa, que visa dá a realidade coisas que nela não existe. É muito estranho ver a cidade empestada de outdoors louvando a impessoalidade do prefeito desta linda cidade e não ver em nenhum canto uma única crítica a esse estado de egolatria exacerbado. Parece que se quer criar um novo Dulce, a lá Mussolini, onde a repetição da pessoalidade, colados no discurso de que ‘nunca fomos tão felizardos’ em ter a magnânima presença dos atuais dirigentes governamentais, seja no município de João Pessoa, seja em Campina Grande ou na direção do nosso Estado vegetativo. Está cansando a nossa inteligência.

As técnicas rudimentares de se repetir os bordões, além de ser uma arma autoritária e nazista, é também a ponta o iceberg por onde vão derreter toda essa propaganda, marketing, merchendaising político, que se tenta fazer dessas figuras, que apesar de terem amealhado apoios populares, agem como se fossem uns ditadores impondo sua vontade e seu jeito de pensar. Joseph Goobels, propagandista e coordenador de comunicação de Adolf Hitler, criou a máxima de que ‘se repita uma mentira milhares de vezes e ela passará a ser vista como verdade’. Só que ele se esqueceu de dizer – ou omitiu por puro ato falho – que essas mentiras não podem sobreviver todo tempo e para todo mundo. Pois se podem enganar alguns por algum tempo, mas todo mundo o tempo todo é impossível.


Portanto, criticar ainda é a melhor maneira de contribuir com o possível e frágil controle social que a sociedade civil – organizada ou não – poderá ainda fazer de bem a todo esse estado de coisas que estão ai. Se com a gente criticando, controlando, fiscalizando, as coisas acontecem dessa maneira, com milhares de escândalos todos os anos, imagine se ficássemos calados como querem os ‘assessores’ pagos com o nosso erário público? Imagine quais as versões que esses ‘assessores’ não nos impingiriam se pudessem mascarar a realidade todos os dias e todas as horas como eles acham que podem?

Vamos continuar no exercício democrático da crítica sincera, para que até os elogios, quando tivermos que fazê-los, sejam também sinceros. Pois de enganação, falsos messias e salvadores da pátria estamos todos de saco cheio. Acho que de ovário também. Seria bom que mesmo os poucos críticos de plantão, ao fazerem suas críticas, dissessem também como andam suas ligações com esse mundo do poder por aqui. Até, repito, para que a crítica tenha alguma credibilidade. Pois ‘sem liberdade de criticar, não existe elogio sincero’.

__________________________________________
(1) Veja mais sobre: Beaumarchais - É a imagem de seu século: um homem versátil apaixonado pela liberdade, os conhecimentos e a ação.
Pierre-Augustin Caron de Beaumarchais - Wikipédia

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Diga o que quiser, mas diga.